Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Tags

Pular para o conteúdo principal

Palhaçadas de João Grilo




João Grilo é uma personagem dos contos populares de Portugal e do Brasil. Apareceu pela primeira vez na Literatura de Cordel no folheto Palhaçadas de João Grilo, escrito por João Ferreira de Lima em 1932. Presepeiro, astucioso e cínico, reapareceu em vários outros folhetos, e hoje é ainda mais famoso por causa do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, peça de teatro publicada em 1955.


João Grilo figura como protagonista nos contos portugueses, a exemplo de João Ratão (ou Grilo), dos Contos tradicionais do povo português, de Teófilo Braga, e da História de João Grilo, dos Contos populares portugueses, de Consiglieri Pedroso. Outro grande etnógrafo português, Adolfo Coelho, incluiu em seus Contos nacionais para crianças o Doutor Grilo, ao passo que Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, na obra Contos tradicionais do Algarve, coligiu o conto O adivinhão. Sem ser nominada, a personagem figura, ainda, nos Contos tradicionais do Brasil, de Luís da Câmara Cascudo, na história Adivinha, adivinhão. (Wikipedia)

A primeira aparição de João Grilo na Literatura de Cordel ocorreu num folheto de oito páginas, com 32 sextilhas (estrofes de seis versos) de sete sílabas, intitulado Palhaçadas de João Grilo, escrito pelo grande poeta João Ferreira de Lima em 1932.  Mais tarde, a obra foi ampliada por outro autor e publicada sob o título Proezas de João Grilo.

O vídeo abaixo mostra um contador de histórias narrando o cordel. Foi gravado por turistas, provavelmente, e não traz nenhuma informação além do nome do contador, seu Manequinho. Ele nos dá uma boa ideia de como o povo contava e conta, ainda hoje, as peripécias do personagem.


Palhaçadas de João Grilo


João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia
criou-se sem formosura
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.

E nasceu de sete meses
chorou no bucho da mãe
quando ela pegou um gato
ele gritou: não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe.

Na noite que João nasceu
houve um eclipse na lua
e detonou um vulcão
que ainda continua
naquela noite correu
um lobisomem na rua.

Porém João Grilo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as pernas tortas e finas
e boca grande e beiçudo
no sítio onde morava
dava notícia de tudo.

João perdeu o seu pai
com sete anos de idade
morava perto de um rio
Ia pescar toda tarde
um dia fez uma cena
que admirou a cidade.

O rio estava de nado
vinha um vaqueiro de fora
perguntou: dará passagem?
João Grilo disse: inda agora
o gadinho do meu pai
passou com o lombo de fora.

O vaqueiro bota o cavalo
com uma braça deu nado
foi sair já muito embaixo
quase que morre afogado
voltou e disse ao menino:
você é um desgraçado.

João Grilo foi ver o gado
pra provar aquele ato
veio trazendo na frente
um bom rebanho de pato
os pássaros passaram n'água
João provou que era exato.

Um dia a mãe de João Grilo
foi buscar água à tardinha
deixando João Grilo em casa
e quando deu fé, lá vinha
um padre pedindo água
nessa ocasião não tinha

João disse: só tem garapa;
disse o padre: donde é?
João Grilo lhe respondeu:
é do engenho Catolé
disse o padre: pois eu quero
João levou uma coité.

O padre bebeu e disse:
oh! que garapa boa!
João Grilo disse: quer mais?
o padre disse: e a patroa
não brigará com você?
João disse: tem uma canoa.

João trouxe uma coité
naquele mesmo momento
disse ao padre: beba mais
não precisa acanhamento
na garapa tinha um rato
tava podre e fedorento.

O padre disse: menino
tenha mais educação
e por que não me disseste?
oh! natureza do cão!
pegou a dita coité
arrebentou-a no chão.

João Grilo disse: danou-se!
misericórdia, São Bento!
com isto mamãe se dana
me pague mil e quinhentos
essa coité, seu vigário,
é de mamãe mijar dentro!

O padre deu uma popa
disse para o sacristão:
esse menino é o diabo
em figura de cristão!
meteu o dedo na goela
quase vomita um pulmão.

João Grilo ficou sorrindo
pela cilada que fez
dizendo: vou confessar-me
no dia sete do mês
ele nunca confessou-se
foi essa a primeira vez.

João Grilo tinha um costume
pra toda parte que ia
era alegre e satisfeito
no convívio de alegria
João Grilo fazia graça
que todo mundo sorria.

Num dia de sexta-feira
às cinco horas da tarde
João Grilo disse: hoje à noite
eu assombro aquele padre
se ele não perdoar-me
na igreja há novidade.

Pegou uma lagartixa
amarrou pelo gogó
botou-a numa caixinha
no bolso do paletó
foi confessar-se João Grilo
com paciência de Jó.

Às sete horas da noite
foi ao confessionário
fez logo o pelo sinal
posto nos pés do vigário
o padre disse: acuse-se
João disse o necessário.

Eu sou aquele menino
da garapa e do coité
o padre disse: levante-se
que já sei você quem é
João tirou a lagartixa
Soltou-a junto do pé.

A lagartixa subiu
por debaixo da batina
entrou na perna da calça
tornou-se feia a buzina
o padre meteu os pés
arrebentou a cortina.

Jogou a batina fora
naquela grande fadiga
a lagartixa cascuda
arranhando na barriga
João Grilo de lá gritava:
Seu padre, Deus lhe castiga!

O padre impaciente
naquele turututu
saltava pra todo lado
que parecia um timbu
terminou tirando as calças
ficou o esqueleto nu.

João disse: padre é homem
pensei que fosse mulher
anda vestido de saia
não casa porque não quer
isso é que é ser caviloso
cara de matar bebê.

O padre disse João Grilo
vai-te daqui, infeliz!
João Grilo disse bravo
ao vigário da matriz:
é assim que ele me paga
o benefício que fiz?

João Grilo foi embora
o padre ficou zangado
João Grilo disse: ora sebo
eu não aliso croado
vou vingar-me duma raiva
que eu tive ano passado.

No subúrbio da cidade
morava um português
vivia de vender ovos
justamente nesse mês
denunciou de João Grilo
pelas artes que ele fez.

João encontrou o português
com a égua carregada
com duas caixas de ovos
João disse-lhe: oh camarada
quero dizer à tua égua
Uma pequena charada.

O português disse: diga
João chegou bem no ouvido
com a ponta do cigarro
soltou-a dentro escondido
a égua meteu os pés
foi temeroso estampido.

Derrubou o português
foi ovos pra todo lado
arrebentou a cangalha
ficou o chão ensopado
o português levantou-se
tristonho e todo melado.

O português perguntou:
o que foi que tu disseste
que causou tanto desgosto
a este animal agreste?
– Eu disse que a mãe morreu;
o português respondeu:
Oh égua besta da peste!

Por volta de 1948, a obra foi ampliada para 32 páginas na tipografia de João Martins de Athayde, pelo poeta Delarme Monteiro (segundo alguns especialistas em cordel). As estrofes que foram acrescentadas são todas em setilhas e ocorre uma mudança brusca de cenário (João Grilo desloca-se do sertão e vai até o Egito, onde demonstra que é mais esperto que qualquer Salomão).

Em breve, a continuação do folheto... A continuação pode ser lida aqui: Proezas de João Grilo.

João Ferreira de Lima

João Ferreira de Lima


Pernambucano de São José do Egito, onde nasceu a 3 de novembro de 1902. Faleceu em Caruaru-PE, a 19 de agosto de 1972. Além de poeta, era astrólogo e foi autor do mais célebre almanaque popular nordestino, o Almanaque de Pernambuco, lançado em 1936, cuja tiragem anual chegou a ultrapassar 70 mil exemplares. A após a sua morte, o almanaque passou a ser editado por sua filha Berenice.
(Fonte: Câmara Brasileira de Jovens Escritores http://www.camarabrasileira.com/cordel20.htm)

Folhetos de João Ferreira de Lima:
- HISTÓRIA DE MARIQUINHA E JOSÉ DE SOUSA LEÃO
- O PINTO PELADO
- CASAMENTO DE CHICO TINGOLE COM MARIA FUMAÇA
- DOIS GLOSADORES - AZULÃO E BORBOREMA
- O MARCO PERNAMBUCANO
- O PRANTO DE JOVELINA, A CRIANÇA QUE MORREU NUMA FURNA MEDONHA
- SERMÃO PROFÉTICO DO PADRE CÍCERO ROMÃO
- PELEJA DE JOÃO DE LIMA COM LINO PEDRA AZUL
- PELEJA DE JOÃO DE LIMA E JOÃO ATHAYDE



Comentários